Oi Carol,
Adorei a história !!! É assim mesmo que funciona nas boas e tradicionais famílias
brasileiras. Vou dar dez, ainda mais porque eu também sou coxa-branca!!!
Abraço
Newton.
Foi esse o comentário (colado na íntegra!) que recebi por email do meu
professor da pós-graduação em Design Estratégico, Newton Gama*, sobre um texto
que produzimos sobre sua aula. O texto foi uma tentativa descontraída de
explicar como o fator "design" pode influenciar na decisão de compra
de qualquer consumidor. Já que ele achou bom, achei que vocês poderiam achar
também... Espero que gostem! (sei que quem me conhece vai dar boas risadas!)
“O consumidor e suas preferências na definição da compra.”
Na última semana, devido a isenção do IPI (Imposto sobre Produtos
Industrializados), meu pai, um senhor de 56 anos, ex-funcionário público,
recém-aposentado, decidiu, depois de muito refletir sobre o assunto, comprar um
carro.
Meu pai
Somos uma família típica de
classe média, onde um único carro é dividido entre todos os membros da prole
(antes eram apenas 2 motoristas, minha mãe e meu pai, porém, depois que eu e
meu irmão completamos 18 anos, somos em 4) e a substituição deste disputado
veículo é feita, em média, uma vez por geração (o nosso último carro serve como
prova, foi um gol “quadrado” branco, ano 90, que nos acompanhou até hoje,
2009). Acabamos desenvolvendo um laço afetivo com este carrinho que amadureceu
com a gente. Foi testemunha de cenas, como por exemplo, eu e meu irmão brigando
no banco de trás com as perninhas balançando no ar de tão pequenos que nós
éramos, e também sofreu com as nossas barbeiragens quando meu pai nos levava
para treinar no “polaco” (apelido carinhoso do gol branco) para o teste do
DETRAN. Enfim, o gol nunca foi vendido, trocado, nem roubado (por incrível que
pareça), na verdade ele foi USADO, e muito. O carro já tinha completado a
maioridade com a gente.
Meu irmão e o Gol 90
Fomos a uma
concessionária da Volkswagen (com esse histórico todo só poderíamos ir a uma
concessionária da Volks), de golzinho 90, eu, meu irmão e o nosso
“paitrocinador”. Minha mãe não quis ir para opinar sobre a compra já que quem
iria pagar era meu pai com sua suada aposentadoria, e, segundo ela, pra quem
ficou 20 anos com o mesmo carro até um carro da Fiat estaria bom (ironias à
parte). Meu pai,
muito conservador, já tinha pensado muito sobre o assunto antes de colocar os pés
dentro da concessionária. Já tinha pesquisado vários modelos e preços no
jornal, calculado o IPVA, conversado com meu irmão para obter uma outra opinião
do sexo masculino, até levado em conta que no carro preto os “riscos” são mais
visíveis (talvez por isso nosso golzinho seja branco). O resultado disso tudo
foi que: iriam os 2, meu pai e meu irmão (os mais “entendidos” da família no
assunto) na concessionária, comprar um carro, que poderia ser 0km, ou não, na
faixa de preço de 30 mil reais no máximo e que se fosse um carro 0km, seria um
gol novo, o G5. É claro que eu também quis ir junto, para representar a parte
feminina da família.
“E lá foi nóis”, a família
Buscapé, de golzinho branco 90 (branco hoje só no documento), rumo à concessionária.
Todos com aquele “sorrisão” no rosto, de quem está com o bolso cheio de
dinheiro (é engraçado como a gente chega a mil por hora na concessionária e sai
de lá se arrastando de cansaço). Meu irmão então, era o mais empolgado, parecia
que estava entrando no Play Center. Piá novo, 23 anos, nunca teve um carro legal
pra se exibir por aí. Meu pai também parecia que tinha entrado no Play Center,
mas no trem fantasma. Apreensivo e com a testa franzida, só faltava entrar
segurando o bolso. Eu estava no meio termo, empolgada, mas com os pés no chão,
talvez na roda-gigante do parque.
A família "Buscapé"
Começamos a
ver os carros que estavam expostos. Havia cartazes em cima deles anunciando os
preços e as possíveis formas de pagamento. Meu pai que mal tinha entrado,
depois de ver os valores, já queria sair pra fumar um cigarro. Meu irmão, esse
perdi de vista, depois que começou a entrar em tudo que era carro. E eu, quando
vi que tinha café de “grátis”, fiquei por lá mesmo, só aguardando os próximos
acontecimentos.
Por sorte
(depois concluímos que foi por azar) meu irmão conhecia uma das vendedoras da
concessionária e já foi pedindo para fazer um test-drive em um Fox 1.0, que
estava uma pechincha. Eu também me empolguei, afinal acho o DESIGN do Fox
lindo, ele é mais alto do que a maioria dos carros e é um Fox “né”, não um Gol,
que por mais que tenham mudado o DESIGN, continua sendo um carro que já passei
20 anos dentro dele. Ao meu pai só restava assistir a cena, segurando o bolso,
claro.
“Lá foi nóis”, de novo, a família
Buscapé, todo mundo dentro do Fox, meu irmão dirigindo, meu pai na frente e eu
atrás com a vendedora. “Anda Henrique!” Eu falava do banco de trás para o meu
irmão. Ele respondia: “tô andando, tô andando!” Aquele carro 1.0 não ia andar
mais que aquilo nem que meu irmão passasse o resto da vida falando “tô andando,
tô andando”. Pedi pra dirigir o carro. Até aí eu estava achando que o problema
era do meu irmão, não só achando como torcendo, afinal eu era a favor do Fox
também. Engatei a primeira marcha e pus o pé no acelerador. Meu pé chegou num
ponto onde não tinha mais o que apertar (a não ser a lataria do carro) e aquele
carro parecia que engatinhava. “Esse carro não anda!” falei sem pestanejar. Carro
1.0, com quatro pessoas adultas dentro, sem nada no porta-malas e nenhum item
adicional pra fazer peso, que não anda? Esqueça. O “polaco” estava “no bico do
corvo”, mas era 1.6 o bichinho, dava pau em muito carro ainda! Meu irmão
ficou quieto.
Sonho de consumo da família "Buscapé"
Família Buscapé agora fazendo
test-drive no gol G5, 1.6. Meu pai, já estressado, desistiu do passeio e
preferiu fumar. Meu irmão dirigindo novamente e eu atrás: “Tá andando?” Ele: “Tá!”
Bravo o piá... Credo, mas pra que esse mau humor? Estamos COMPRANDO um carro,
não indo dar queixa de seu roubo. Foi então que caiu a minha ficha. O piá
estava achando ruim que o Gol 1.6 estava andando mais que o Fox 1.0! Estava dando
tanto valor ao DESIGN do Fox a ponto de se “contentar” com um motor bem menos
potente! (o ideal seria o Fox 1.6, mas era “beeeeem” mais caro e o
“paitrocinador” não estava de acordo).
Como se a
dúvida já não estivesse grande o bastante, meu pai quis conferir o pátio dos seminovos (sempre tentando gastar menos). Chegando lá, meu irmão avistou um
Fiat Punto 1.8, preto, com o painel todo cromado, dois anos de uso e preço
igual ao Gol G5 0km. Não preciso dizer que o piá ficou louco. Se a imaginação
dele fosse visível provavelmente seria: ele, dentro do Punto preto de painel
cromado, luz do cromado refletindo nos dentes, de óculos escuros, com o braço
para fora da janela e umas 5 loiras de biquíni cheias de espuma lavando aquela
máquina! (de pegar mulher)
Sonho de consumo do meu irmão
No fim, acabamos todos por
convencer meu irmão de que o Gol G5 era o melhor negócio para nós. Os quesitos QUALIDADE,
MARCA e PREÇO falavam mais alto. Isso na visão do meu pai, que
acredita que não se importa com o design do carro. Mas se o Gol G5 tivesse o
mesmo DESIGN do Gol 90, ou até mesmo o do G3 ou G4, duvido de que seria
comprado. O DESIGN, entre outras ações, age no psicológico do indivíduo.
Chega de mansinho e muitas vezes nem é percebido conscientemente. Mas o
inconsciente está lá e não deixa esse fator passar despercebido.
Realidade da família "Buscapé"
*Newton Gama, hoje, é um
executivo e às vezes professor (segundo ele mesmo fomos seus primeiros alunos).
É formado em Design Industrial pela UFPR e pós-graduado em Marketing pela PUC.
Atuou como gerente geral de design da Whirlpool, onde foi responsável pela
criação da linha de produtos das marcas Brastemp e Cônsul durante 26 anos.
Também desenvolveu projetos de produtos da Whirlpool para a América Latina,
China, Índia, México, Estados Unidos e Europa e atuou como diretor de design de
produtos da GAD` Design. Gama recebeu diversos prêmios, entre eles, o primeiro
Prêmio CNI de Gestão do Design.
Ps.: Desculpem a diagramação
problemática. É que quando algum texto é "colado" aqui no blog, o
editor de texto se revolta e começa a avacalhar com tudo, fonte, tamanho,
parágrafo...
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