segunda-feira, 25 de maio de 2009

Venha para o mundo de Adidas!




Essa dica veio da minha querida amiga e designer Alexandra Ribeiro. Segundo as palavras dela: "Site inteligente, invejável, que temos que tomar conhecimento."

Fui conferir, claro, já pensando aqui no blog. Realmente, o site é ultra, mega, hiper interativo... Mas para mim, sinceramente, ele é mais. Não sei nem resumir em uma palavra. É infinito. É, acho que é isso, infinito.

Entre muitas, acho que essa seja sua característica predominante. É um site que você não consegue sair dele. Calma, calma, isso não é uma crítica. O site não é um labirinto onde você se perde por não haver um número de botões de links adequado (nem é de se esperar isso de uma marca como a Adidas). O site é simplesmente tão cheio de conteúdo que você não consegue parar de navegar por ele. Calma, calma mais uma vez. Não vou detonar o site por excesso de informação. O conteúdo é muito bom! E tudo mostrado de forma atraente, descontraída, informativa, até é possível estar dentro de uma festa junto com todos os patrocinados pela marca.

Agora vocês estão esperando aquele famoso mmmmaaaaasssss.... Vocês vão ter que me desculpar, mas esse site não tem "mas". Além do extenso conteúdo, ainda há organização! E uma organização que inova, com movimento. Os links não foram dispostos um abaixo do outro, sem vida, o que provavelmente facilitaria muito a navegação por tantos assuntos, mas dispostos aparentemente de forma aleatória, instigando mais a curiosidade do internauta a passear por tudo.







Confesso que não visitei o site todo, como faço geralmente (no fim do post vocês entenderão o porquê). Na home, ao passar o mouse sobre os links, aparece uma sinopse do assunto de cada link (o que também explica o fato da minha visita tão curta). Mas isso não diminui a vontade de "destrinchar" o site todo. Bastar entrar em um link que você já foi “fisgado” pela Adidas.

Bom, mas se tudo é tão lindo e tão bom, porque tão poucas exclamações, você deve estar pensando, já que eu quando acho alguma coisa interessante, não economizo elogios. Sou tão "mão aberta" que lanço até algumas onomatopeias de gorjeta. (essa parte ficou meio brega, mas não resisti a comparação :p)

O que eu gostaria de salientar sobre o site é uma coisa que a minha amiga Alexandra não mencionou. Talvez por ser designer igual a mim, se ateve apenas as considerações "designerísticas". Claro, ela é uma designer! Muitos devem estar pensando. Consequentemente vai falar sobre o que ela entende. Massssss... (é, não resisti) que tal olharmos o assunto por outro ângulo?

Nós, não só designers, mas seres humanos em geral, fomos estimulados desde crianças a "executar" e não a "refletir". A operar e não a raciocinar. Infelizmente, esse costume fez com que nosso modo de "pensar" se tornasse um ato automatizado, mecânico e passivo. X é igual a X e acabou! Por quê? Porque é! Não houve nem há espaço para a pergunta: Por que X não pode ser Y? Isto fez com que nosso instinto de questionamento fosse abafado, nos conformando com apenas um ponto de vista sobre qualquer assunto. Esse post é justamente um convite à reflexão multidimensional sobre qualquer coisa. Antes de sermos designers, somos seres humanos (por mais que tentem fazer com que nos esqueçamos disso). E até se fossemos só designers teríamos que ter o dever de exercitar esse olhar. O designer tem que se comunicar com diversos tipos de pessoas e para isso é necessário entender vários tipos de linguagens, não basta apenas contentar-se com um único modo de expressão.

Então, que tal olharmos para o site da Adidas agora não mais com as lentes do design, mas com as lentes do marketing. O marketing é responsável pela movimentação do produto desde a sua fabricação até sua chegada ao ponto-de-venda. No caso aqui, usaremos as lentes da "estratégia de marketing". A Adidas não tem o poder que tem à toa. A empresa sabe onde investir, sabe quem é seu público alvo e tem esse olhar macro que faz com que o atinja por diversos aspectos. A Adidas aprendeu a investir não só na criação de uma coleção de roupas para praticar esportes, mas em um estilo de vida. Aprendeu a identificar seus clientes em potencial e atingi-los. Aprendeu a valorizar a sua marca e através disso desenvolver produtos que não servem apenas para serem usados, mas também para comunicar um modo de pensar, uma forma de comportamento. Ela se preocupou não só com a parte funcional de seus produtos, mas também com a parte emocional de seus clientes. Este é o seu diferencial. Ela sabe que roupas hoje em dia qualquer um faz, identificação e conexão com seu público alvo, são poucos. É nisso que as empresas competem hoje. (não preciso falar que o design também é uma ferramenta de marketing muito forte)



Então, agora olhemos para o site com as lentes da semiótica. Para ser sincera, durante meu passeio pelo site, comecei a sentir uma inquietação. Uma vontade louca de sair de casa e ir correndo para uma loja da Adidas. Juro. Essa estratégia deles colou tanto comigo que fiquei impressionada. Foi o motivo que me levou a escrever esse post. Como é grande o poder da comunicação, não é? Das imagens, da música, das formas, das cores, da interatividade, isso tudo junto então, como acontece no site, é pra deixar qualquer um com o trevinho da Adidas refletido nas duas pupilas. Aquele mundo de gente descolada, alternativa, vestidos com roupas cheias de atitude, nada discretas, com aquele ar de "sou o que sou e estou muito bem assim" me causou uma tremenda sensação de vazio. Nós, seres do mundo real, não somos assim. Temos nossas diferenças, nossas fraquezas. Não pensamos que "estamos muito bem assim" porque nós não estamos realmente tão bem assim. Não estamos felizes com dezenas de coisas sobre nossas vidas e sobre nós mesmos. Somos seres humanos e não seres de outdoor. Às vezes o teatro é tão bem feito que fica difícil fazer essa diferenciação.





Pra piorar (a nossa situação, é claro), a marca que está fazendo 60 anos, optou por pregar a originalidade e ter uma "festa" como tema de campanha. E para piorar mais um pouco, famosos de nível mundial são alguns dos "Originais" dessa festa. Todos devidamente trajados com seus modelitos Adidas (originais?). Piorando só mais um pouquinho (sim, é possível), na casa onde está acontecendo a festa, existe um quarto "closet" com todas as roupas da nova coleção à disposição dos "convidados". Agora pensem, a gente entra num site desse, com roupas super estilosas, música empolgante, gente bonita, auto-confiante, "original", famosa e ainda curtindo o maior festão numa super casa, com um closet à disposição onde veladamente sugere que basta você se vestir com roupas da marca que você vai ter acesso a tudo que as pessoas da festa já tem (e você é o único "desoriginal" que ainda está de fora). É ou não é pra ficar com vontade de ir correndo pra uma loja da Adidas? Eu quero muito participar desse mundo, você não? 




Foi aí que a minha ficha caiu, ou melhor, acordei da lavagem cerebral a qual estava me submetendo. Até que ponto essas campanhas são eticamente corretas? Até onde é justo apelar para as carências mais profundas do ser humano em nome do lucro e do consumo desenfreado em tempos de escassez de bens naturais e dificuldade de desintegração de materiais industriais? E nós designers, que também temos a aceitação de um produto como meta, até onde estamos pensando coletivamente e não apenas nos nossos próprios umbigos? É possível para nós botarmos a cabeça em nossos travesseiros e dormirmos tranquilos com nossas consciências? Eu realmente gostaria de obter uma resposta, acho que esse glamour todo me deixou em estado de transe, só consigo pensar em Adiiiidaassss... Adiiiiidaaasss... Adiiiiidaaasss...

Bjs

2 comentários:

  1. isso ai amigaa!!! adorei o texto! e vamo blogar!

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  2. Putz Carol, entendo completamente o que você quer dizer. Tudo isso que você comentou, da forma como usamos da marca para comunicar, puro branding! Eu esto estudando branding e confesso que sinto essa mesma inquieteação: até que ponto está certo criar esse universo para o nosso consumidor? Devemos mesmo destrinchar essas pessoas até descobrir cada desejo dela e antecipar isso entregando na experiência de marca? Quem trabalha com branding acredita que sim, porque você esté entregando algo que o consumidor anseia com qualidade. Mas no fim das contas é tudo com um único objetivo, dar lucro à empresa. Essa "adoração" que elas são capazes de incitar tem o único objetivo de criar consumidores "fãs" incontestáveis da sua marca... Difícil né. Eu tenho minhas dúvidas também. Ainda estou ponderando tudo isso! Se eu chegar a mais alguma conclusão, compartilho!

    =D

    bjos
    Mariana
    (jornalista da abcDesign)

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